O post de hoje é uma entrevista com o nosso amigo Pedro, que é engenheiro de computação e mora há mais de três anos na Alemanha. No primeiro ano, ele fez estágio em uma empresa startup de tecnologia e gostou tanto da experiência que resolveu ficar por lá mais dois anos para cursar um mestrado na Universidade de Münster. Ficou curioso pra saber como ele conseguiu? Então olha só essa entrevista que nós fizemos com ele:
Quando e como você decidiu fazer intercâmbio?
Eu tinha acabado de terminar a faculdade e já estava trabalhando. Durante a graduação eu tinha feito um intercâmbio para a Alemanha, que foi uma uma experiência ótima mas muito curta, só dois meses. Eu decidi que queria ter uma vivência maior no exterior, conhecer mais lugares e pessoas, e que devia fazer isso antes de começar uma carreira, porque aí tudo seria mais difícil.
Como você conseguiu esse estágio? Como funciona a AIESEC?
A AIESEC é uma organização de estudantes que promove o desenvolvimento pessoal e profissional dos membros, e um dos meios é o intercâmbio profissional. Existem comitês da AIESEC em várias cidades do Brasil e do Mundo e eles organizam um banco central de vagas de estágio do mundo todo. O primeiro passo é se candidatar a membro da AIESEC em algum comitê, no meu caso foi na Unicamp. Os candidatos têm que passar por um pequeno processo seletivo e, se aceitos, escolher entre participar como membro ativo do comitê (trabalhando na organização) ou ir direto para o intercâmbio. Para ter acesso ao banco de dados de vagas é preciso pagar a primeira parte de uma taxa (não lembro o valor exato, mais algo como 300 reais). A partir daí, você tem acesso a todas as vagas de estágio da AIESEC no mundo todo. Na minha época, tinham muitas vagas na Alemanha e na área de TI, mas o foco da organização é também nas áreas de administração, marketing e trabalho voluntário. Você então se candidata a quantas vagas quiser, desde que atenda aos requisitos. Isso é importante, porque apesar de não precisar ser estudante pra ser membro, a maioria dos países exige que um estagiário estrangeiro seja estudante pra conseguir o visto. Eu precisei reingressar na Unicamp só pra ter o status de estudante por causa disso. Eu me candidatei a várias vagas, passei por várias entrevistas com empresas, e no final fui aceito e decidi ir pra Colônia. Com a vaga garantida, é preciso pagar a segunda parte da taxa (coisa de 600 reais, de novo não lembro direito), correr atrás da burocracia de visto se necessário e arrumar as malas. No meu caso, o estágio era pago, recebi um contrato de 6 meses (que depois renovei por mais 3 meses lá) e eu recebia 700 euros por mês.
Depois de terminar seu estágio, você começou a fazer um mestrado lá, certo? Como você conseguiu?
Certo. No final do estágio a empresa me ofereceu um contrato permanente, mas eu decidi que não queria continuar pois queria fazer um mestrado. Isso já não teve mais relação nenhuma com a AEISEC. Eu precisei me candidatar ao mestrado como um aluno normal. O processo é meio chato e varia de universidade pra universidade, mas geralmente começa com bastante antecedência e envolve traduzir todos seus documentos e certificados de graduação para o alemão ou inglês, fornecer certificados de proficiência em idiomas (alemão, inglês ou os dois, dependendo do idioma que o curso é ministrado), escrever uma carta de apresentação e em alguns casos entrevistas com pessoas da universidades.
Você recebe uma bolsa?
Não, mas a universidade é praticamente gratuita na Alemanha (tem só uma taxa semestral de cerca de 200 euros) e o visto de estudante te dá permissão para trabalhar 120 dias ao ano em período integral ou 240 dias em meio período.
Qual é o custo de vida na Alemanha?
Isso varia muito de cidade para cidade. Tanto em Colônia quanto em Münster eu conseguia me virar com cerca de 700 euros por mês, mas outras cidades como Munique, Hamburgo ou Düsseldorf são mais caras. Mas em geral a Alemanha tem um custo de vida relativamente barato se comparado com outros países europeus.
Porque você escolheu a Alemanha?
Acho que na verdade a Alemanha me escolheu, haha! No meu primeiro intercâmbio durante a graduação eu me candidatei a várias vagas e fui escolhido para uma na Alemanha. Depois de viver lá dois meses, eu já vi que me adaptaria bem ao país e também comecei a estudar a língua. Quando entrei na AIESEC já tinha vontade de voltar para a Alemanha e a decisão de ir pra lá foi reforçada pelo fato de ser o país que de longe tem mais vagas de intercâmbio disponíveis.
Como é viver aí?
A vida na Alemanha é muito confortável. As cidades são limpas, o transporte público é excelente, não há violência, enfim, tudo funciona bem. No começo tudo era novidade e eu me impressionava bastante com as coisas, mas com o passar do tempo isso virou o “normal”. Em termos da vida no dia-a-dia, Brasil e Alemanha não são tão diferentes assim. Aquela rotina casa-trabalho-cerveja-com-os-amigos-no-fds é a mesma. Só que a cerveja é melhor! Um outro aspecto legal também é que na Alemanha tem muito mais estrangeiros que no Brasil, então eu acabei fazendo amigos do mundo todo e conhecendo um pouquinho de cada cultura. Como as distâncias são menores, é também muito mais fácil viajar para outros países. A Holanda, por exemplo, fica a menos de uma hora de trem de Münster e é tranquilo fazer um bate-volta pra….eh, deixa pra lá :P
O povo é receptivo ou muito frio?
Nem um nem outro. Existe esse esteriótipo de que os alemães são frios que não é bem verdade. Acho que os brasileiros são extremamente receptivos no geral, sempre que um estrangeiro aparece por aqui as pessoas têm interesse em conversar, mostrar o país, e etc. Isso definitivamente não acontece por lá, talvez porque, como eu falei, há muitos estrangeiros e isso não é nenhuma novidade. Mas eu sempre fui tratado com muito respeito e, depois que você os conhece, os alemães são até bem simpáticos.
Sentiu muita diferença em relação ao Brasil? Foi difícil se adaptar?
A diferença é grande, mas acho que isso é que é o legal de morar fora. Me adaptar foi bem tranquilo no meu caso, o comitê da AIESEC de lá dá bastante suporte no início. Eles organizam reuniões semanais e alguns eventos para os intercambistas, então de cara já fiz vários amigos e isso ajuda bastante. Algumas coisas do cotidiano são diferentes e podem ser meio irritantes às vezes. Por exemplo, lá nenhuma loja, supermercado, vendinha, abre no Domingo. Nada. Eu sempre esquecia disso e várias vezes acordava pra descobrir que a geladeira estava vazia e não tinha uma loja aberta pra comprar comida!
O que mais te chamou atenção quando se mudou para a Alemanha?
O que mais me chamou a atenção foi o nível de desenvolvimento e a organização do país. Ainda mais se a gente considerar que a Alemanha foi quase totalmente destruída durante a guerra e foi um país dividido em dois até 1990. Se por um lado muitos dos monumentos antigos e centros históricos não existem mais (comparado com outros países europeus a Alemanha tem bem menos por conta da guerra), por outro lado a infraestrutura e centros modernos são impressionantes.
Do que você mais sente falta?
Da comida, de falar a minha própria língua, dos amigos e família e do clima. A comida até dá pra reproduzir. Dos amigos e família dá pra matar a saudade quando visito o Brasil ou pela internet. Mas o clima não tem jeito, é ruim mesmo. Senti muita falta também da espontaneidade que pra nós é comum e definitivamente não existe muito lá. Um churrasco ou uma cerveja com os amigos de última hora? Impossível, é um caos no planejamento dos alemães.
Você já falava alemão antes de ir ou precisou aprender? É possível usar o inglês em todos os lugares?
Eu já sabia um pouco de alemão, mas era bem básico e no começo só me virava em inglês. É possível, conheci várias pessoas que moram na Alemanha a anos e não falam quase nada de alemão. O problema é que sem falar a língua do país é difícil realmente se integrar, fazer amigos, conhecer a cultura. A pessoa vai acabar perdendo muitas oportunidades e ficar sempre dependente de alguém quando falar inglês não for suficiente.
Você tem planos de voltar para o Brasil?
Sim, apesar de ter morado 3 anos fora eu ainda me sinto em casa no Brasil. Acho que por mais que você se integre em uma outra cultura, aprenda o idioma, faça amigos e estabeleça relações, as raízes não mudam de lugar. Além disso, minha família, meus amigos e o país em si (afinal estudei em uma universidade pública no Brasil) contribuíram muito para minha formação e eu sinto que preciso retribuir isso de alguma forma no futuro.
O que aprendeu com o seu intercâmbio?
É até difícil saber por onde começar. Eu aprendi um idioma novo, conheci pessoas de todos os tipos, fiz amizades pra vida toda, visitei um monte de países e ao mesmo tempo aprendi a dar mais valor às coisas boas do meu próprio país. Mas acho que o maior aprendizado foi o de abrir a mente. O fato de conviver com pessoas de mentalidade tão diferentes e conhecer suas histórias me fez perceber que não existem verdades absolutas e que tudo depende do ponto de vista. Essa maneira nova de pensar é algo que vai ficar comigo pra sempre.
Recomenda essa experiência para outros estudantes?
Sim, muito! Se tiver a oportunidade, não pense duas vezes e vá! Até hoje eu nunca conheci um intercambista que tenha se arrependido :)
Gostou das dicas? Se você está pensando em fazer um intercâmbio – independente do país ou objetivo – e tiver alguma dúvida, é só perguntar pra gente. Se pudermos ajudar, será um prazer! É só deixar nos comentários. =)
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