O post de hoje é um relato inspirador, mas muito realista para quem pensa em estudar, trabalhar e morar fora do país. A entrevista é com Júnior Milério, meu amigo jornalista que mora em Dublin, na Irlanda, há 9 meses. Ele foi pra lá estudar inglês, mas conta que já curtiu e aprendeu muito mais sobre a vida do que podia imaginar.
Olha só a entrevista:
Como é viver e trabalhar em Dublin?
Por que você escolheu Dublin para fazer seu intercâmbio?
Na realidade eu decidi muito rápido, fui demitido do emprego que amava e, na hora, decidi que ia viajar… menos de dois meses depois eu tava embarcando pra cá e no próximo dia 28 já vai completar nove meses. A agilidade se deu porque para vir pra irlanda você não precisa ter visto, você chega no país [tem que ter o seguro comprado e a escola contratada, a escola te envia uma carta pra apresentar na imigração no aeroporto, quando chega] e aí recebe um carimbo com permissão pra ficar no país [tem gente que recebe um mês, outros três, como no meu caso… isso é totalmente aleatório, acredite…] e nesse tempo você tem que correr atrás de abrir conta no banco e, depois de receber cartão e senha num endereço daqui, deposita o valor que eles exigem comprovados pra ter o visto de estudante… até então, de três mil euros… esse dinheiro você precisa ter inteiro até o dia de ir tirar o visto [GNIB é o nome do documento de estrangeiro aqui]. Então, pra vir, você precisa ter uma grana além disso, pra sobreviver até tirar o visto, etc.
Outro motivo que me fez vir pra cá é que, com o visto de estudante, você pode trabalhar também. Funciona assim: durante o período de estudos [25 semanas] você só pode trabalhar part time [até 20h por semana… na Europa o salário é por hora, o mínimo na Irlanda é 8.65 euros], se estiver nos outros seis meses, que eles chamam de “holiday”, você pode trabalhar full time [até 40h por semana, desde que seja no período entre maio e começo de set. ou dez. Essa regulamentação é recente e dificulta um pouco a vida do estudante. Antes de eu vir, podia trabalhar full time desde que estivesse em holiday da escola, em qualquer período do ano. Mas a grana do part time é suficiente pra ***sobreviver*** sem regalias, mas uma vida ok.
Como é viver aí? As pessoas, os costumes e a qualidade de vida são muito diferentes?
Viver em Dublin, nos primeiros meses, é uma contradição. Tem dias que amamos, e tem dia que odiamos. Mas provavelmente tenha a ver com a experiência de viver fora, e não necessariamente viver em Dublin. Muita gente acha, e eu também achava, que era um paraíso passar um tempo fora do país. Mas a realidade é que é muito, mas muito difícil. Em Dublin tem muito brasileiro, não tenho certeza, mas na última matéria que vi sobre os imigrantes brasileiros aqui, na Globo, falava em 18mil brasileiros. Levando em conta que Dublin é pequena, com cerca de meio milhão, somos muitos aqui. Então há irlandeses que não têm muita paciência com imigrante, mas nada grosseiro. Há quem chame os irlandeses de educados, eu prefiro a palavra tolerante.
Tem coisas engraçadas no dia a dia. Você pode estranhar, por ex., pedestres esperando pra atravessar a rua, mesmo que não haja carro passando, pelo simples fato de que o farol de pedestre está fechado.
Os irlandeses, de fato, bebem muito, mas muito, mesmo! E paradoxalmente [ou justamente pra evitar mais bebidas ainda, risos] todos os bares e casas noturnas devem fechar às 3h da manhã, impreterivelmente, exceto uma outra festa. A minha preferida, por ex., chamada Mother, que acontece no subsolo de um hotel, acaba 3h45. E esses 45 minutos são celebrados com euforia pelas pessoas [chega a ser engraçado, parece criança quando pode ficar brincando na rua até mais tarde, risos] pelo fato de tudo fechar 3h, tem muito after party clandestino, porque é proibido, afinal. E posso falar? Já fui ver como é e dancei no salão de uma pizzaria, sem mesas e cadeiras, enquanto o DJ tocava praticamente em cima do fogão. Foi divertidíssimo! Mas deu medo de a guarda chegar, afinal, somos estrangeiros, né. Mas after party é organizado por irlandês.
Uma coisa que me impressionou aqui é o uso de ecstasy. Praticamente todo mundo usa. O acesso é facílimo e o preço irrisório, é mais barato que beber, por isso provavelmente tanta gente use.
Seu objetivo inicial era passar 6 meses estudando inglês e outros 6 trabalhando, certo? Como foi a busca por trabalho?
Sim, essa era a ideia. E ficar, pelo menos, um ano [com curso de inglês, nós podemos renovar o visto por mais duas vezes [um ano cada, totalizando três anos], se quiser ficar mais tem que entrar na universidade. Pra ser sincero, eu esperei a água bater na bunda. Nos primeiros meses, a insegurança com a língua e o local desconhecido barram a gente pra procurar emprego [se posso dar uma dica é: procure emprego sem medo]. No brasil, somos induzidos a pensar que temos que falar um inglês perfeito, mas não é bem assim. As pessoas querem te entender e que você as entenda, seja como for, então não tenha medo. Arrisque!
Curiosamente, meu primeiro emprego aqui consegui muito fácil. Mandei cv pra uma vaga online num dia à noite, na manhã seguinte tive resposta, à tarde fiz entrevista, três dias depois comecei. Foi casual job, como garçom em eventos, em dezembro. Trabalhei em cinco eventos naquele mês, mas depois não teve mais trabalho, e não tinha mais dinheiro. Foi quando deu o desespero, mas o amigo de um amigo estava voltando pro brasil e me indicou para a vaga dele. É um trabalho registrado certinho [então ganho o mínimo por hora, porque assim como em qualquer lugar do mundo, aqui tem empresa que paga menos…]. No pub eu faço limpeza, ajudo na cozinha, recebo delivery [caixas e mais caixas] ajudo a desembarcar barris de cerveja [a coisa mais pesada que já fiz na vida, é bem pesado]. No começo, por conta do trabalho na cozinha, de cortar cebola a fazer purê de batata, minhas mãos estavam sempre com um corte, uma queimadura e, até hoje, dói. As juntas doem a todo momento. Hoje menos, mas ainda dói.
Eu me dei conta de que eu era um sortudo até os meus 30 anos. Eu nunca tinha precisado fazer nenhum trabalho que não gostasse ou que me desgastasse tanto fisicamente, mas a gente acostuma. Tou me acostumando. Hoje já não sofro tanto com o trabalho pesado, mas a humilhação rola direto, seja quando você não entende alguma palavra e seu chefe se irrita, seja quando você entra num banheiro caótico, sujo, e tem que limpar, sozinho. O que precisa ter em mente é a razão pela qual está ali e seguir persistente. Eu vim pelo inglês, mas devo dizer que entre os meus maiores aprendizados até agora o inglês é o menos importante, a gente aprende muito sobre a vida.
Que tipo de trabalho você faz hoje e como é sua rotina?
Sou registrado como kitchen staff, mas faço tudo. Entro oito da manhã no pub, tenho que limpar tudo para abrirem por volta das 10. Mas tenho só 1h pra limpar todo o pub, o piso de cima, onde fica o salão, mesas, balcão, cadeiras, bancos, etc. a área de fumantes, e o piso de baixo, onde ficam os banheiros masculino e feminino. Feito isso, vou pra cozinha, lavar muita louça e cuidar de algumas comidas que a head chef me pede pra ajudar.
Em relação à remuneração, é o suficiente para se manter?
Como disse, o mínimo por hora aqui é 8.65. Depende de quantas horas você faz, o que pode variar sempre. Tem dia que vou achando que ficarei das 8h ao meio-dia e às 10, 11h eles falam pra eu ir embora. Mas tem sido suficiente, sim, sem luxo.
Qual é seu gasto médio mensal, levando em consideração as contas fixas e ainda alimentação, baladas e alguns passeios?
Olha, entre alimentação, aluguel e despesas fixas, gasto em média uns 400 euros mensais [levando em consideração que divido o quarto com duas pessoas, e o aluguel em Dublin tá caríssimo]. Para baladas depende muito: eu não bebo, então gasto pouco, no entanto, os lugares que frequento em geral pagam pra entrar [o que não é comum aqui em Dublin. Na maioria dos pubs a entrada é gratuita].
Que dicas você daria para alguém que pretende encontrar um emprego em Dublin?
Falar. Falar com todo mundo. Sair, se expor e fazer amigos. Muita gente diz que não é pra se envolver com brasileiro, porque dificulta o aprendizado do inglês. Concordo em partes, mas é sempre um brasileiro que vai te indicar prum emprego, que vai te socorrer quando a coisa apertar.
Você pretende renovar seu visto e continuar por aí?
Pretendo renovar, sim. O meu vai até julho, mas não sinto que meu inglês está bom o suficiente. Por quanto tempo mais pretendo ficar aqui? É a pergunta mais difícil pra eu responder. Todo mundo sempre diz que a gente não sabe o que pode acontecer, mas quando você mora fora, você realmente não sabe o que pode acontecer. E isso é medonho. Mas fascinante também!
Fotos: Júnior Milério
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