Pra falar a verdade, fazer um intercâmbio não era uma vontade que tinha desde pequeno. Não que a ideia não me agradasse, mas nunca tinha pensado na possibilidade. Era início de 2010, início de aulas do penúltimo ano da minha graduação. Alguns amigos haviam feito intercâmbio durante as férias e comecei a cogitar e gostar da ideia. Fui evoluindo o pensamento ao longo do ano, conversei com meus pais e decidi por participar do programa de intercâmbio – Work And Travel – no fim daquele mesmo ano, nos Estados Unidos.
Work and Travel EUA – Como funciona?
É um programa de intercâmbio, regulamentado pelo governo dos EUA, que permite o ingresso no país para trabalhar durante as férias de faculdade. De posse do visto J1, universitários de 18 a 28 anos podem trabalhar por até três meses na terra do Tio Sam e tirar mais uma mês para poder viajar pelo país.
A forma mais fácil de participar desse programa é contratar através de agências de intercâmbio brasileiras. Embora seja possível e mais barato se inscrever por conta própria, as agências facilitam a vida pois dão todo o suporte burocrático, além de dicas e orientações.
Como consigo um trabalho?
As agências de intercâmbio também ajudam nesse ponto. Elas fazem o meio de campo com um agência de trabalho nos EUA, a chamada Sponsor, e tentam te arrumar uma vaga. Você tem acesso a uma lista de empregadores e descrições de vagas de forma antecipada, e pode manifestar interesse nas que mais te agradarem, mas não há garantia nenhuma de que vai conseguir a que mais te interessa, depende um pouco do seu nível de inglês, em alguns casos rola até uma entrevista, além do seu perfil e “ordem de chegada” (se alguém se inscreveu antes no programa, tem prioridade).
Se por acaso algo dá errado e sua vaga de emprego é cancelada, a agência te ajuda a conseguir outro emprego. Mas, mais uma vez, não há garantia de que vai ser o que você mais quer. Foi o que aconteceu comigo: 24 horas antes de embarcar para Washington, recebi um e-mail dizendo que a minha vaga de garçom estava cancelada! Embarquei mesmo assim, sem emprego, e fiquei uma semana desempregado até a agência conseguir outra vaga, dessa vez em Sufolk, na Virginia. Mas não acabou aí, as condições do trabalho de jardineiro – que também podemos chamar de pau pra toda obra – não eram bem o que eu esperava e acabei indo parar em Miami Beach. (deixo os detalhes dessa saga para outros posts).
Que tipo de emprego posso conseguir?
Não pense que você vai sair do Brasil rumo à terra do Tio Sam para fazer um estágio de 3 meses na área em que estuda. Não! Os tipos de emprego que geralmente fazem parte de um Work and Travel são os chamados subempregos: garçom, auxiliar de cozinha, caixa, recepcionista, empacotador, e por aí vai. No meu caso, acabei como Housekeeping no Jazz Hostel em Miami. Limpava os quartos, o chão, os banheiros, trocava roupa de cama… Um faxineiro e ajudante geral do Hostel.
E o salário? Consigo bancar os custos do intercâmbio?
O salário varia muito: 5, 6, 8, 10, 13 dólares por hora. Depende do empregador. Tem gente que consegue juntar uma grana com o trabalho e pagar parte, ou até 100%, dos custos do intercâmbio. Eu ganhava apenas U$ 300 por mês, mas não pagava estadia pois morava no próprio hostel onde eu trabalhava. Além disso, gastava muito pouco para comer porque tinha desconto de funcionário nas refeições servidas pelo hostel.
Como é a rotina?
A rotina é a mesma de um trabalhador qualquer no Brasil, só tem uma diferença fundamental: tudo é muito novo e por isso você tem disposição para aproveitar as horas vagas. Independente de quanto tempo exigir o seu trabalho, sempre sobra tempo para um barzinho, balada, ou uma visita à um ponto turístico. Nos dias de folga, dá até para pequenas viagens bate e volta para lugares próximos.
Eu tive a sorte de trabalhar apenas 4 horas por dia, e apenas a duas quadras da praia. Tinha uma rotina bem chata #sqn hehe… Quase todos os dias, após o trabalho, ia correr no pier de Miami Beach ou ia dar um mergulho no mar… Todas as noites tomava cerveja com a galera, muitas vezes até sem pagar, pois era normal alguns hospedes fazerem checkout e deixarem cerveja no frigobar por não caber na mala – vantagens de ser housekeeping ;) hehe.
Nos dias de folga, quando não fiquei apenas curtindo a praia e o visual incrível de Miami Beach, aproveitei para viajar, Orlando e Fort Lauderdale, ou conhecer um pouco mais de Miami.
Exercitar o inglês
Acho que depende um pouco da sorte mas principalmente de vontade própria. Um dos meus principais objetivos com o intercâmbio era exercitar o inglês, mas treinei bem menos do que eu gostaria. Como falei no começo do post, a minha vaga inicial de trabalho foi cancelada antes mesmo de eu embarcar. O plano era ser garçom em Washington DC, e como garçom penso que seria obrigado a por o meu inglês em prática constantemente. Mas fui parar em Miami Beach – deixo para explicar melhor como isso aconteceu em outro post – e acabei por falar bem menos inglês do que eu imaginava. Além de mim, o hostel tinha mais 3 housekeepings, todos brasileiros. Passava a maior parte do tempo com eles, no trabalho ou nas horas vagas. Minha chefe era das Ilhas Canárias, e o inglês dela era, apesar de fluente, era bem enrolado e difícil de entender. Usava o inglês para me comunicar com os outros funcionários ou com os hóspedes, mas confesso que como não tinha um nível avançado e até por comodismo, acabava não falando tanto quanto deveria para alguém que tinha como objetivo treinar o idioma.
Coisa de maluco esse tal de Work and Travel!
Depois de ler tudo isso você deve tá pensando: “Deixar de curtir minhas férias no Brasil para trabalhar em subemprego nos EUA? E ainda por cima ganhar pouco e correr risco de não melhorar meu nível de inglês?”
Sim, isso mesmo! Embora possa parecer um pouco pesado, eu trabalhava no máximo 4 horas por dia, das 11h às 15h, não tenho do que reclamar. Infelizmente, esse tipo de trabalho é visto com certo preconceito aqui no Brasil. Mas minha experiência e relatos de colegas mostram que nos EUA o respeito é muito grande. Não tive nenhum problema em ser faxineiro de um hostel, em nenhum momento fui tratado com indiferença. E a recompensa, bem mais do que o salário, é a troca cultural, o aprendizado com o novo, o contato com pessoas diferentes, as novas amizades. Você aprende a dar valor ao que realmente importa. Para muitos é também a primeira experiência de trabalho e uma ótima oportunidade para exercitar o inglês. Não tenho dúvidas que você volta para o Brasil muito mais maduro do que quando saiu.
Se você está pensando em fazer um intercâmbio – independente do país ou objetivo – e tiver alguma dúvida, é só perguntar pra gente. Se pudermos ajudar, será um prazer! É só deixar nos comentários. =)
Outros posts que você também vai gostar:
6 motivos para parar de sonhar e fazer logo seu intercâmbio
Como é viver e trabalhar em Dublin, na Irlanda
A rotina de um intercambista na Alemanha
Intercâmbio nos EUA – principais dicas
Tudo sobre meu intercâmbio pela Nova Zelândia
Canadá, uma boa opção de intercâmbio
Histórias de uma brasileira na Holanda
Tudo que você precisa saber sobre Austrália
2 comments