Mesmo em um país atingido pelo terremoto mais forte da história e onde foram registradas mais de 8 mil mortes, a vida continua se renovando a cada dia, independentemente dos recursos ou profissionais disponíveis. Foi por isso que, pouco tempo depois dos tremores registrados no Nepal, o trabalho dela foi iniciado.
Roberta Duarte Stopnitzky é médica Obstetra e faz parte de uma organização humanitária. Assim como os outros voluntários, ela dedica seu tempo e seus esforços trabalhando para ajudar pessoas que nem conhece, mas que precisam muito de ajuda. Na entrevista de hoje, você vai saber como funciona o trabalho de uma médica voluntária em áreas necessitadas e conhecer um pouquinho dos motivos que a levaram até lá.
Você faz parte de alguma instituição? Pode contar um pouquinho como ela funciona?
Sim, sou voluntária de uma organização com sede no Reino Unido, chamada VSO – Volunteers Services Overseas. No caso, estou trabalhando no ramo VSO Nepal, devido a resposta de emergência ao terremoto ocorrido em abril passado.
O que te levou ao Nepal?
A paixão pelo voluntariado e a necessidade de fazer a diferença na vida de pessoas que realmente precisam de algo além do que a vida lhes tira do dia para noite. Não tem dinheiro algum neste mundo que reponha. Apenas valores humanos.
Como é o seu trabalho aí?
Lindo, amo o que faço, vejo e ouço milhares de mulheres de vilarejos distantes com histórias que cortam o coração e nos fazem agradecer a oportunidade de estar lá para dar algum suporte.
Eu atendi uma média de 360 pacientes nestes 3 meses, entre consultas de ambulatório, visitas de enfermaria, visitas à Primary Care Assistance em zonas rurais e realizei uma média de 44 partos.
Além da minha atividade como Obstetra, eu era coordenadora do time dos voluntários e estava cuidando da reforma do Hospital, providenciando materiais, e frequentando uma média de duas reuniões por semana, onde encontrava representantes de múltiplas ONGs para discutir os pontos de maior necessidade em cada subdistrito. Portanto, minha assistência ao parto era mais dedicada aos casos de urgência e treinamento do time local e às cesáreas.
Qual é a condição dos hospitais depois do terremoto?
Assim que cheguei, encontrei nosso hospital em precárias condições de higiene, mas consegui mobilizar a comunidade e reuni 105 voluntários para limparmos o hospital do topo ao solo, ficou lindo. Entretanto as unidades básicas de saúde de algumas vilas foram completamente destruídas, e as pacientes têm que viajar em estradas em péssimas condições, devido às monções, para vir até nosso Hospital.
Quais as principais dificuldades que os médicos encontram?
Falta de higiene e treinamento médico apropriado, daí a necessidade do serviço de treinamento por voluntários de outras ONGs.
Como ficou a vida das pessoas depois do terremoto?
Surpreendentemente, as pessoas retomaram a vida com muita resignação e resiliência. E é de extrema importância divulgar, através da mídia, que o Nepal está de pé, que não é apenas os destroços que mostram na TV repetitivamente. Alguns monumentos foram danificados, mas em apenas algumas áreas e o Nepal depende do turismo. Na maioria das cidades você não nota os danos, pois estão em completa reconstrução. Os maiores danos foram nos vilarejos.
Você está em Katmandu ou outra cidade?
Não, estou numa cidade chamada Dhading Besi, pertencente ao Distrito de Dhading.
Já participou de outros trabalhos humanitários antes?
Sim, trabalhei em Serra Leoa junto aos Médicos Sem Fronteiras, em Bo, num serviço de Emergências Obstétricas, localizado em Ghondama (GRC Ghondama Referral Center).
Você recebe algum salário, ajuda de custo, hospedagem, alimentação, etc?
Minha ONG apenas oferece um lugar básico para residir, e uma ajuda alimentação mínima, no nosso caso de US 210,00, por mês. Nada mais, o trabalho é totalmente voluntário.
Quais são os momentos mais gratificantes do seu trabalho?
Ver o nosso hospital completamente limpo, pacientes com atendimento obstétrico e ginecológico restabelecido. Além disso, ter conseguido, com o suporte da minha organização, fornecer colchões, travesseiros, pintar as camas e restaurá-las, pintar as enfermarias, dar condições de segurança de trabalho ao meu time de enfermeiras. E principalmente, ver meus bebês nepaleses nascendo num lugar limpo e com dignidade.
Depois de um parto, a mãe pediu que você escolhesse o nome do bebê. Como foi este momento pra você?
Emocionante, gratificante, e escolhi o nome que as enfermeiras costumavam me chamar, “SHANTI” que significa paz, não preciso dizer mais nada… Só uma lágrima já bastou.
Pretende ficar no Nepal por quanto tempo?
Minha missão por aqui acabou e me sinto com missão quase cumprida, mas ainda vou continuar trabalhando em alguns projetos, mesmo à distância. Já tenho outra missão em vista para o Camboja. Vou ficar lá por 6 meses, em janeiro de 2016.
Depois de tantos momentos emocionantes, trabalho duro e contato com uma cultura totalmente diferente e em reconstrução, o que essa experiência acrescentou na sua vida, tanto profissional quanto pessoal?
Resiliência, profissionalismo e gratidão.
*Atualização: no final de fevereiro deste ano (2017) ela embarca para outra missão, desta vez na Libéria. Roberta vai ficar no país por 2 meses com o objetivo de proporcionar treino para as parteiras locais de vilas e também assistência médica em áreas remotas. Porém, a organização para onde ela trabalha não tem fundos suficientes para financiar moradia e custos com alimentação. Por isso, Roberta começou uma campanha online para levantar fundos e conseguir pagar sua viagem. A campanha está neste link e já ultrapassou mais da metade do valor necessário, mas ainda precisa de ajuda para sair do papel. Se você gostou do depoimento, do trabalho desenvolvido pela Roberta e gostaria de ajudar de alguma forma, esta é a hora!
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