A história de uma volta ao mundo em busca da juventude

Jovem o suficiente

Viajar através dos livros é quase tão gostoso quanto visitar pessoalmente um lugar, ou pelo menos é um incentivo a mais para conhecer o país ou a cidade tão desejada, se inspirar e tomar coragem para arrumar as malas e embarcar. Ultimamente, eu estou na fase de só comprar/ler livros relacionados a viagens, o que funciona como uma tática para reduzir um pouquinho a vontade de cair na estrada enquanto nossa próxima trip não chega.

E é exatamente sobre livros de viagem que o post de hoje vai falar… na verdade, um livro em especial : “Jovem o suficiente”, do Felipe Gaúcho. Eu gostei tanto da história, das mensagens de reflexão e da coragem do Felipe, que resolvi ir atrás dele e entrevistá-lo para contar mais sobre essa aventura aqui no blog.

Só pra vocês entenderem melhor, o Felipe deu a volta ao mundo, sozinho, com apenas 19 anos (!), após ver seu melhor amigo desistir do sonho que tinham em comum. Ele passou por mais de 30 países nos 5 continentes entrevistando e fotografando crianças, em uma busca incessante por juventude.

Jovem o suficiente

Além de falar sobre o livro e a experiência incrível que teve, o Felipe também passou várias dicas importantes pra quem pretende fazer uma viagem longa como a dele sem gastar muito e ainda passando por vários países. Vale acompanhar!

Por que você começou a pensar em fazer uma viagem tão longa quando você ainda tinha uma idade em que os planos normalmente são tão momentâneos? Como surgiu esse sonho?

O sonho surgiu primeiro da curiosidade infantil em conhecer povos de todo o planeta. A ideia era dar uma volta ao mundo com meu melhor amigo, que acabou decidindo não me acompanhar na jornada, depois de um tempo. Foi aí que percebi o “envelhecimento” de várias pessoas que conviviam comigo – não no sentido cronológico, mas no sentido de não se apegar mais com o mesmo afinco aos sonhos e ideais de outrora. Dessa constatação, veio a ideia de conversar, fotografar e conviver com crianças, pra tentar recuperar essa “juventude perdida” através delas. O sonho não surgiu de repente, portanto: foi tomando forma e amadurecendo, junto comigo.

No livro você diz que a ideia era viajar com seu melhor amigo, o Louiz, mas diante da ausência dele, vc chegou a pensar em desistir?

Sim, pensei em desistir. E essa foi só uma das vezes. Foram tantas que, depois de um tempo, eu já tinha me acostumado ao pensamento e nem mais me assombrava com ele.

Como é viajar tanto tempo sozinho, longe da família e dos amigos?

É libertador. Escancara o fato de que, mais cedo ou mais tarde, definitivamente ou não, a gente fica sozinho, na vida. E, se por um lado é amedrontador não ter com quem contar, por outro, é de uma leveza indescritível saber que não há ninguém para quem devemos satisfações, ninguém com quem temos compromissos, ninguém com quem devamos nos preocupar diretamente, diariamente. Claro que uma das coisas mais difíceis é aprender a conviver consigo mesmo…

Jovem o suficiente

Você relata que ficou hospedado em muitas casas de pessoas locais. Como conseguia essas hospedagens (usou algum tipo de site, como o CouchSurfing)?

Normalmente, entrava em contato com viajantes ou locais que já conheciam a região para a qual eu estava indo, e pedia indicações. Quando não acabava me hospedando com algum amigo de amigo, pedia ajuda para a população local, mesmo, perguntando se sabiam de algum lugar onde eu podia dormir em troca de uma quantia em dinheiro. Aí, se não dava certo, eu partia para albergues e hospedagens do gênero. Exceções aconteciam quando eu sabia que chegaria em um lugar muito tarde, e que não teria tempo para achar uma hospedagem ideal: nesses casos, eu reservava uma cama alguns dias antes.

Como era o contato com essas pessoas que vivem realidades tão diferentes?

Era um tesão, na falta de uma expressão mais sutil para descrever a sensação. Sempre fui fascinado por povos, modos de vida e expressões culturais: pra mim, viajar é caçar diferenças. Sendo assim, cada novo encontro era uma descoberta. Algumas causavam incômodo; outras, incredulidade, admiração ou repulsa. Eu procurava não julgar tanto as pessoas com quem eu tinha contato, e sim tentar incorporar a visão de mundo delas à minha, formando uma maneira mais completa de enxergar as coisas. Exemplo: um cigano que gasta tudo o que ganha em adereços ostentosos para a sua casa não está certo ou errado, objetivamente. Só está reagindo diante da cultura na qual foi criado, uma cultura que têm de compor qualquer visão de mundo que se proponha a ser a mais completa possível.

Além de escolher hospedagens como essas, o que mais você fazia para economizar dinheiro?

Não tinha pressa. Isso foi, de longe, o que mais me fez economizar dinheiro. Entre uma passagem aérea e várias caronas para ir de A a B, qual é mais rápido e qual é mais barato? Entre comprar ingredientes na feira e cozinhar uma janta, ou comer num restaurante, qual é mais rápido e qual é mais barato? Viajar devagar é o único segredo pra se viajar barato.

Como foi o planejamento da sua viagem (tanto financeira, quanto em relação ao roteiro)? Vc pesquisou sobre os países e foi traçando rotas e pensando quanto tempo ficar em cada um ou deixou rolar?

Pesquisei bastante sobre as melhores épocas pra se visitar cada região, tanto em função do clima quanto em função de festividades ou outras datas especiais. A partir daí, esbocei uma rota, e determinei a direção em que viajaria. Também a partir da pesquisa, já sabia o tempo mínimo e máximo que pretendia passar em cada lugar, assim como os custos estimados. Aí foi só partir, e ajustar os planos de acordo com o que ia acontecendo. No fim das contas, eu tinha sempre um plano para a semana seguinte, mas não sabia onde estaria dali a 10 dias ou mais.

Apesar de seu objetivo ter sido buscar a juventude entrevistando crianças, não dá pra negar que a religião foi algo que esteve constantemente presente na sua viagem e, em alguns momentos, desafiando seu ceticismo, certo? Seu ponto de vista mudou depois das experiências religiosas que teve?

Completamente. O ceticismo (ignorante) deu lugar a uma baita admiração pelas grandes religiões do mundo, e a um apreço especial por algumas delas. Além disso, hoje vejo que fé e juventude tem muito em comum, e não se opõem de maneira alguma, como eu já cheguei a pensar.

Como foi passar um tempo vivendo com os monges budistas em um Monastério no Laos?

Foi um mergulho em um mundo completamente diferente! Abriu meus olhos para a beleza do budismo, e também para algumas coisas com as quais discordo, na filosofia que seguem. Mais do que isso, acho que me ensinou que todo mundo pode pinçar as coisas boas de diferentes doutrinas, e formular uma própria. E foi também uma baita experiência, conviver com monges com os quais eu mal conseguia me comunicar, no meio de um bosque no Laos!

Quem leu o livro já sabe qual foi o pior (ou os piores) momentos da sua viagem, mas e o melhor? Dá pra escolher só um?

Não tem como escolher só um! Cada segundo foi especial, mas dá pra dizer que o Tibete e a Indonésia foram os lugares onde passei alguns dos momentos mais inesquecíveis. Caminhar pelo Himalaia é uma experiência que eu recomendo pra qualquer um, e que nunca vai sair da minha memória; assim como passar um tempo em uma vila litorânea remota na Indonésia (ou em algum país do sudeste asiático).

O que vc diria pra quem também tem um sonho de conhecer o mundo, mas não tem coragem suficiente para “largar tudo” e assumir os riscos?

Que comece a planejar agora, e que de imediato já defina uma data para partir. Não acredito em decisões importantes que se materializam da noite para o dia: tudo começa com uma boa pesquisa e um bom plano. Com uma data já definida, fica mais difícil de ponderar sobre qualquer empecilho, e também de voltar atrás. É pé na tábua!

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